A Educação e o Futebol: os perfis da violência direta ou indireta, atualmente (II)
Prof. Eduardo Ubirajara R. Batista
Vamos iniciar esta segunda parte do assunto proposto no título acima, cuja parte I foi publicada, aqui, no dia 2 deste mês. Esta parte II está disponível a partir desta segunda-feira, 9 de junho. Precisamos, antes, avivar a memória das pessoas que leram a parte primeira, remetendo-nos à justificativa da pesquisa bibliográfica, que expusemos no último parágrafo da parte anterior matéria anterior. Em seguida, discorreremos fatos que merecem melhor análise reflexiva sobre a relação educação versus violência nos esportes, em particular no futebol brasileiro. É que a variável Educação, formal ou informal, que deveria ser o principal pilar bloqueador qualquer tipo de violência, não é prioridade vital.
A escolha do assunto, em pauta, deve-se a preocupação do autor dessas matérias publicadas aqui. Fui professor durante 59 anos, do nível básico ao nível superior, tendo acompanhado o célere e massivo crescimento da oferta de escolas de 1960 a 1963. Tudo foi planejado com a intenção de formar o cidadão letrado e de propiciar, ao mercado de trabalho, trabalhadores alfabetizados, qualificados, tanto em nível médio, incluindo-se os cursos técnico e o profissionalizante, assim como alavancar o nível superior. Já em 1960, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) estendeu, ao nível de pós-graduação lato sensu, o aperfeiçoamento e a especialização; e, ao nível de pós-graduação stricto sensu, o mestrado, o doutorado – e, posteriormente, o pós-doutorado. A primeira lei reguladora da Educação do Brasil, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB-4024), projeto de 1948, só foi sancionada em 1961. Surgiu, daí, o Plano Nacional de Educação (PNE), com foco principal na erradicação do analfabetismo.
Todavia o aumento assustador da violência entre jovens nas escolas, em outros ambientes sociais e nas ruas – não é só no Brasil – deve-se, principalmente, à falta de uma educação informal (doméstica) e da educação formal (escolar) adequadas à ética e à moral. Uma criança ou um(a) adolescente, que não recebe a permanente atenção dos pais e dos agentes escolares (professores, pedagogos orientadores, assistentes sociais e gestores escolares), veem a facilidade de juntar-se a outros de suas idades, rebeldes, que sofrem violências: domésticas, quando, por exemplo o pai e a mãe, que não têm tempo para conversar ou ajudar os(as) filhos(as) na leitura analítica dos conteúdos estudados na escola. Todos sabemos que a falta de atenção de pessoas, que nos são mais próximas, causa-nos angústia e frustação. Já o simples cumprimento de repassar, sistematicamente, as ementas programáticas para alunos nas escolas, sem a devida contextualização com o cotidiano real do mundo, não se lhes garante uma cidadania importante para a entender o mundo das relações sociais, em qualquer atividade, do processo democrático de conviver harmoniosamente.
A violência no futebol acentua-se entre torcidas adversárias, entre jogadores em campo e via más arbitragens, que são “arbitrárias” – destoantes das regras, penalizam, quase sempre, um dos times da partida, levando-nos à suposição de que há má intenção por trás dessas condutas viesadas. Esses três segmentos, com dimensões negativas, vêm, assim, descaracterizando um esporte, que deveria ser sadio, o mais praticado e assistido por bilhões de cidadãos no mundo.
Voltando-se à relação educação-violência, lembre-se de que a LDB vigente, sempre recarregada de boas emendas, visam à maior inserção de pessoas no seio sociocultural, antes impedidas de alcançarem a plena cidadania, por preconceitos diversos, tais como o racial e os desabastados socioeconomicamente, desprovidas de melhor condição de vida. Bolsas de estudo, incentivo financeiro para alunos do ensino médio, para que não larguem a caminhada dos conhecimentos, entre outros incentivos, que promovem mais inclusão socio-acadêmica nos principais níveis de ensino. Desta forma, sempre se esperou que as iniciativas includentes ajudassem ao melhor entendimento sobre as relações sociais em qualquer atividade, em particular na família, no trabalho e no lazer – nos campos de futebol, por exemplo.
Não se concebe como educada seja a pessoa que: a) afronta, moral e fisicamente, outra, só por não pertencer a uma torcida que esteja comemorando uma vitória ou a conquista de um título; b) que um jogador machuque ou seja machucado – muitas vezes com fraturas e outras escoriações – seja pelo acirramento na ‘luta’ por um resultado positivo do jogo, a seu favor, seja pela péssima arbitragem, que estimula a violência em campo, quando não tem a coragem ou cumprimento de seu dever. Esses maus comportamentos se estendem pelas imediações dos estádios, de forma selvagem, inclusive com uso de armas de fogo ou com paus, pedras, copos de vidro e ferros que matam ou aleijam os litigantes encrenqueiros, sem a devida educação defensiva – afastamento da turba, por exemplo. Pior se o policiamento é feito por soldados despreparados para lidar com essas selvagerias já muito conhecidas.
Diante do exposto nesta matéria, é de nossa opinião que, mais do que os atores citados aqui, a sociedade, política e oficialmente representada, as escolas, as organizações não governamentais, incluindo clubes de diversas modalidade, igrejas, sindicatos, associações de bairros, a mídia em geral, e outras representações públicas, busquem, no mais breve espaço de tempo, criar fóruns pertinentes a este tema de alta relevância, apesar de complexo, para as mudanças que se fazem necessárias, visando ao bem estar público em qualquer espaço onde o esporte deve ser salutar, principalmente quando se refere ao futebol. Finalizamos com uma crítica à modernização do futebol dita por Galeano (2018, p. 33), quando afirma que lamenta “[…] a perda da espontaneidade e a busca excessiva pelo lucro. ” Perfeito! Bom proveito!
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(1) FUTEBOL: da burguesia aos desfavorecidos. Disponível em: https://www.google.com/search?q=o+futebol%2C+de+origem+burguesa+e+pr%C3%A1tica+restrita%2C+tornou-se+um+se+um+fen%C3%B4meno+de+massa%se+um+fen%C3%B4meno+de+massa%2C+se+popularizando+como+o+principal+esporte+das+classes+desfavorecidas+socialmente.(…) Acessado em: 20 mar. 2025.
(2) GALEANO, Eduardo. Futebol ao Sol e Sombra. Porto Alegre. L&PM, 2018.
(3) EDUCAÇÃO FÍSICA; o futebol como componente da cultura brasileira. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/o-futebol-como-componente-da-cultura-brasileira.htm Acessado em: 20 mar. 2025.
(4) MURAD, Maurício. Futebol: Esporte, Cultura e Paixão. USP Talks#20. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X3HMXBRYAHg Acessado em: 20 mar. 2025.
(5) PROIBIR Torcidas e Fechar Estádios não resolve a Violência no Futebol? Disponível em: https://www.cartacapital.com./esporte/por-que-proibir-torcidas-e-fechar-estadios-nao-resolve-a-violencia-no-futebol/ Acessado em: 20 mar. 2025.
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Autor do texto: Prof. Eduardo Ubirajara R. Batista (ASAP-SE)
Editor: Jornalista Leonardo Teles Simões (ASAP-SE)
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